sábado, 28 de novembro de 2009

Repercussões da gravidez na adolescência

A adolescência caracteriza-se por ser um período de descoberta do mundo, dos grupos de amigos, de uma vida social mais ampla. Assim, a gravidez pode vir a interromper, na adolescente, esse processo de desenvolvimento próprio da idade, fazendo-a assumir responsabilidades e papéis de adulta antes da hora, já que dentro em pouco se verá obrigada a dedicar-se aos cuidados maternos. O prejuízo é duplo: nem adolescente plena, nem adulta inteiramente capaz. A adolescência é também uma fase em que a personalidade da jovem está se formando e, por isso mesmo, é naturalmente instável. Se é fundamental que a mãe seja uma referência para a formação da personalidade de seu bebê, os transtornos psíquicos da mãe poderão vir a afetar a criança.
Ao engravidar, a jovem tem de enfrentar, paralelamente, tanto os processos de transformação da adolescência como os da gestação. Isto, nesta fase, representa uma sobrecarga de esforços físicos e psicológicos tão grande que para ser bem suportada necessitaria apoiar-se num claro desejo de tornar-se mãe. Porém, geralmente não é o que acontece: as jovens se assustam e angustiam-se ao constatar que lhes aconteceu algo imprevisto e indesejado. Só este fato torna necessário que seja alvo de cuidados materiais e médicos apropriados, de solidariedade humana e amparo afetivo especiais. A questão é que, na maioria dos casos, essas condições também não existem.
Muitas vezes, a dificuldade de contar o fato para a família ou até mesmo constatar a gravidez faz com que as adolescentes iniciem tardiamente o pré-natal – o que possibilita a ocorrência de complicações e aumento do risco de terem bebês prematuros e de baixo peso. Além disso, não é raro acontecer, em seqüência, uma segunda gravidez indesejada na jovem mãe. Daí a importância adicional do pré-natal como fonte segura de orientação.
Viver ao mesmo tempo a própria adolescência, cuidar da gestação e, mais tarde, do bebê, não é tarefa fácil. E a vida torna-se ainda mais difícil para a adolescente grávida que estuda e trabalha. Igualmente, essa situação não difere com relação ao jovem adolescente que se torna pai: ele se vê envolvido na dupla tarefa de lidar com as transformações próprias da adolescência e as da paternidade, que requerem trabalho, estudo, educação do filho e cuidados com a esposa ou companheira.

Por que tem crescido a gravidez na adolescência?

Mas por que, afinal, apesar de todas estas dificuldades muitas adolescentes engravidam?
Não é fácil responder a esta pergunta. Antigamente, podia-se pensar que era por falta de informação. Mas hoje todos sabem que existem muitos métodos para evitar a gravidez. Eles são acessíveis, baratos e podem ser ampla e facilmente utilizados pelos jovens.
De fato, os adolescentes têm o acesso facilitado às pílulas anticoncepcionais, ao diafragma, à camisinha.. Os meios de comunicação e as escolas fazem freqüentes campanhas de esclarecimento. Os serviços de saúde estão à disposição para prestar informações. No entanto, as estatísticas brasileiras demonstram que apenas 14% das jovens de 15 a 19 anos utilizam métodos contraceptivos; e somente 7,9% delas, a pílula.
O problema é que, muitas vezes, os jovens pensam ou dizem saber tudo sobre sexo, e não sabem. Pode ser que não tenham informações corretas ou que não saibam como aplicá-las às suas vidas, ou que seus pais achem que eles já estão suficientemente esclarecidos e não mais precisam de informação ou conversa sobre um assunto que ainda traz certo constrangimento. E, principalmente, pode ser que os jovens, embora saibam das coisas, acreditem que com eles nada acontecerá.

"Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo, embora soubesse do risco que corria, ao não usar a camisinha todas as vezes que mantinha relação", dizem, surpresos, muitos adolescentes ao descobrirem a gravidez. Isto revela uma característica fundamental da mentalidade do adolescente: achar que as coisas só ocorrem com os outros. O resultado desse comportamento de risco é que, dentre todas as mulheres que se tornam mães, 20% delas são adolescentes!

Outra explicação aponta que os jovens são muito imediatistas. Ante a possibilidade de fazer sexo, sobretudo quando esperaram muito por isso, não pensam nas conseqüências: valem-se do desejo imediato, ignorando os resultados.
Nem toda gravidez precoce e não planejada é uma história sem final feliz. Mas, infelizmente, tudo acabar bem é uma exceção à regra. Há muitos casos em que a menina, para atrair sobre si a atenção ou o afeto da família e dos amigos, ou para segurar o namorado, engravida. Ora, as carências afetivas devem ser consideradas seriamente, e com certeza uma gravidez prematura não é a melhor solução. Além disso, filho não tem o poder de segurar namorado, nem de produzir casamentos felizes e duradouros. Se o relacionamento do casal estiver ruim, dificilmente um bebê facilitará as coisas, pelo contrário.
Ainda existem outros tipos de explicação. Considera-se, por exemplo, que muitas vezes uma jovem desamparada, que não desfrute de uma condição de vida digna, pode pensar que tornando-se mãe se libertará da miséria e obterá o respeito das pessoas. Esta idéia baseia-se na crença de que a sociedade tende a valorizar a figura da mãe e a ter maior consideração pelas gestantes. Mesmo que exista um pouco de verdade nisto, logo a jovem se verá em situação ainda pior: terá de trabalhar e cuidar do filho em condições adversas, e a maternidade, ao invés de premiá-la com os benefícios esperados, só lhe trará mais dificuldades e responsabilidades.
Finalmente, é preciso dizer que significativo número da gravidez de adolescentes decorre do uso da violência, força ou constrangimento. Em geral, resulta de estupro - a realização de ato sexual à força - ou de incesto, isto é, a relação com familiar próximo, como o pai, tio ou irmão. Nas situações de violência, o trauma psicológico geralmente é intenso. Mais do que ninguém, elas precisam de amparo e proteção especiais. Para essas situações de risco, amparadas explicitamente pela lei, é permitida a realização do aborto legal, com atendimento pela rede do Sistema Único de Saúde.
Os serviços de saúde têm condições de informar, orientar e prestar assistência à adolescente grávida, através de um pré-natal diferenciado, já que sua gravidez é considerada como de alto risco, sobretudo para as jovens com menos de 16 anos


Dr. Alberto Olavo Advincula Reis (USP)
Dra. Maria Aparecida Andres Ribeiro (UFMG

Nenhum comentário:

Postar um comentário